quarta-feira, 25 de janeiro de 2012

Forró & Sertanejo: Retrato de uma relação promíscua;
O forró vive um período muito confuso, onde a cada semana surge uma música que todos dizem ser o sucesso do verão, sem que nenhuma delas emplaque incontestavelmente no gosto popular. É cedo para se fazer uma avaliação definitiva, mas alguns aspectos globais já podem ser analisados.
Em primeiro lugar é inequívoco que 2011 foi um ano bastante peculiar, que foi inaugurado com dois hits arrasa-quarteirão: “Minha Mulher não deixa não” de Reginho & Banda Surpresa (posteriormente regravada centenas de vezes) e “Assim você me mata” de Michel Teló (anteriormente regravada centenas de vezes). Juntas, as duas músicas jogam um pouco de luz sobre ano confuso.
A primeira música praticamente inaugurou uma nova era no mercado da música sertaneja. O fato de originalmente ser um brega criado nas periferias da Grande Recife, contribui ainda mais para a peculiaridade do momento atual. Nos últimos anos, os artistas de forró regravavam e incluiam em seu repertório de shows quase todos os grande sucessos sertanejos. O contrario era mais raro, poucos artistas sertanejos regravavam sucessos do forró. O diálogo entre os dois mundos praticamente não ocorria. Era como se Norte/Nordeste fossem um país e Sul/Sudeste. “Minha mulher não deixa não” derrubou essa barreira.
Em um primeiro momento, o casamento do sertanejo com o forró seria digno de uma grande festa, o problema é que essa relação começou promíscua.
Para se entender como isso aconteceu (e se bobear tudo o que está acontecendo agora) é preciso trazer à baila um nome: Marquinhos Audiomix. Ele é considerado o homem mais poderoso da musica sertaneja atual e tem em seu cast Jorge & Mateus e Gusttavo Lima, dentre outros. E o quê esse cara fez? Ele importou todo o modus operandi da máfia que se instalou no mercado do forró para o mercado sertanejo.
Basicamente esta máfia está acentada em um tripé:
- Discos Promocionais Invendáveis, que justamente por não serem comercializados, driblam a incômoda (para os empresários) questão dos direitos autorais.
- Venda de shows para grandes eventos com escalação casada, ou seja, o empresário usa um nome de grande peso que ele possui em seu escritório, para garantir que outros artistas de sua empresa possam aparecer e tornarem-se conhecidos. Com ampla distribuição de CDs promocionais nesses eventos, naturalmente.
- Lançamentos de singles de musicas estouradas na Internet, na própria Internet. Essa prática foi criada este ano, por conta das demandas criadas pelo caso “Minha mulher não deixa não”.
Lógico que um esquema desses é extremamente pernicioso, pois privilegia os detentores da maior quantidade de capital de giro (aumentando ainda mais essa quantidade) e também a busca por sucessos fáceis e rápidos. O forró já vem sofrendo as consequências dessa máfia a uns quatro anos, o sertanejo a conheceu em 2011. Isso explica a quantidade recorde de regravações toscas este ano.
O que a equipe de Michel Teló fez foi pegar esse esquela e injetar milhões e mais milhões de reais em mídia em cima dele, através de uma música que a mais de seis meses já fazia sucesso no nordeste. Não tinha como dar errado, posto a quantidade de dinheiro que Teló tem na carteira. Desde seu lançamento em agosto, até seu estouro mundial em dezembro, foram caminhões e mais caminhões de dinheiro investidos.
Isso também explica parcialmente o porquê dos novos sucessos surgidos no forró não conseguirem emplacar. “Ai se eu te pego” voltou para o nordeste na forma de uma terrível ressaca. Os parâmetros de sucesso ficaram confusos e megalômanos. Um sentimento de urgência tão grande se instalou na busca do próximo hit, que acabou gerando atitudes capazes de constranger cercas de arame farpado, como a criação de músicas cujo tema foi um dos Top Trends mais sem noção do Twitter em toda sua história: “Luiza está no canadá”.
Nós já fomos mais inteligentes e mais criativos. Mas este blog é otimista quanto ao futuro da música brasileira e acredita que denunciando todas essas mazelas, estará cumprindo seu papel histórico. Aguarde em breve, mais matérias sobre esse assunto inesgotável. A única coisa que esse mercado predatório criou de realmente novo, foi o verbo mafiar, ou seja, sabotar artistas, músicas, carreiras e shows. Tem uma música do Metallica que ilustra bem isso: Sad But True.

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