Forró & Sertanejo: Retrato de uma relação promíscua;
O forró vive um período muito confuso, onde a cada semana surge uma
música que todos dizem ser o sucesso do verão, sem que nenhuma delas
emplaque incontestavelmente no gosto popular. É cedo para se fazer uma
avaliação definitiva, mas alguns aspectos globais já podem ser
analisados.
Em primeiro lugar é inequívoco que 2011 foi um ano bastante
peculiar, que foi inaugurado com dois hits arrasa-quarteirão: “Minha
Mulher não deixa não” de Reginho & Banda Surpresa (posteriormente
regravada centenas de vezes) e “Assim você me mata” de Michel Teló
(anteriormente regravada centenas de vezes). Juntas, as duas músicas
jogam um pouco de luz sobre ano confuso.
A primeira música praticamente inaugurou uma nova era no mercado da
música sertaneja. O fato de originalmente ser um brega criado nas
periferias da Grande Recife, contribui ainda mais para a peculiaridade
do momento atual. Nos últimos anos, os artistas de forró regravavam e
incluiam em seu repertório de shows quase todos os grande sucessos
sertanejos. O contrario era mais raro, poucos artistas sertanejos
regravavam sucessos do forró. O diálogo entre os dois mundos
praticamente não ocorria. Era como se Norte/Nordeste fossem um país e
Sul/Sudeste. “Minha mulher não deixa não” derrubou essa barreira.
Em um primeiro momento, o casamento do sertanejo com o
forró seria digno de uma grande festa, o problema é que essa relação
começou promíscua.
Para se entender como isso aconteceu (e se bobear tudo o que está
acontecendo agora) é preciso trazer à baila um nome: Marquinhos
Audiomix. Ele é considerado o homem mais poderoso da musica sertaneja
atual e tem em seu cast Jorge & Mateus e Gusttavo Lima, dentre
outros. E o quê esse cara fez? Ele importou todo o modus operandi da
máfia que se instalou no mercado do forró para o mercado sertanejo.
Basicamente esta máfia está acentada em um tripé:
- Discos Promocionais Invendáveis, que justamente por não serem
comercializados, driblam a incômoda (para os empresários) questão dos
direitos autorais.
- Venda de shows para grandes eventos com escalação casada, ou
seja, o empresário usa um nome de grande peso que ele possui em seu
escritório, para garantir que outros artistas de sua empresa possam
aparecer e tornarem-se conhecidos. Com ampla distribuição de CDs
promocionais nesses eventos, naturalmente.
- Lançamentos de singles de musicas estouradas na Internet, na
própria Internet. Essa prática foi criada este ano, por conta das
demandas criadas pelo caso “Minha mulher não deixa não”.
Lógico que um esquema desses é extremamente pernicioso, pois
privilegia os detentores da maior quantidade de capital de giro
(aumentando ainda mais essa quantidade) e também a busca por sucessos
fáceis e rápidos. O forró já vem sofrendo as consequências dessa máfia a
uns quatro anos, o sertanejo a conheceu em 2011. Isso explica a
quantidade recorde de regravações toscas este ano.
O que a equipe de Michel Teló fez foi pegar esse esquela e injetar
milhões e mais milhões de reais em mídia em cima dele, através de uma
música que a mais de seis meses já fazia sucesso no nordeste. Não tinha
como dar errado, posto a quantidade de dinheiro que Teló tem na
carteira. Desde seu lançamento em agosto, até seu estouro mundial em
dezembro, foram caminhões e mais caminhões de dinheiro investidos.
Isso também explica parcialmente o porquê dos novos sucessos
surgidos no forró não conseguirem emplacar. “Ai se eu te pego” voltou
para o nordeste na forma de uma terrível ressaca. Os parâmetros de
sucesso ficaram confusos e megalômanos. Um sentimento de urgência tão
grande se instalou na busca do próximo hit, que acabou gerando atitudes
capazes de constranger cercas de arame farpado, como a criação de
músicas cujo tema foi um dos Top Trends mais sem noção do Twitter em
toda sua história: “Luiza está no canadá”.
Nós já fomos mais inteligentes e mais criativos. Mas este blog é
otimista quanto ao futuro da música brasileira e acredita que
denunciando todas essas mazelas, estará cumprindo seu papel histórico.
Aguarde em breve, mais matérias sobre esse assunto inesgotável. A única
coisa que esse mercado predatório criou de realmente novo, foi o verbo
mafiar, ou seja, sabotar artistas, músicas, carreiras e shows. Tem uma
música do Metallica que ilustra bem isso: Sad But True.